domingo, 12 de dezembro de 2010

Um devaneio hipnagógico

Tento escrever poesia
Mas a dureza do dia
Embrutece o sentimento
O coração que é surrado
Bate forte e magoado
No peito que morre lento

O corpo todo reclama
Do pé que carrega a lama
À mão que carrega o calo
E o ombro que leva o mundo
Fala em cochicho, resmungo
Do peso de carregá-lo

Penso na filosofia
Mas a dureza do dia
Emburrece o pensamento
Os olhos querem descanso
E o cérebro fica manso
E a cabeça dói por dentro

Lembro “Não ter ou não ter”
Porque pensar é poder
E não se pode pensar
O Tempo é só pro sustento
Quem pensa perde o momento
Que tem pra se sustentar

Hipnagógico penso
No instante utópico  imenso
Entre o real e o sonhar:
“Um dia vou entender:
Porque é que preciso ter
Para poder precisar?”

Jonathan Mendonça, 12/12/2010

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Era

     A vida para ela
( E A vida pára para ela)
     A vida paralela à dela

Cansando
De novidades defuntas
De paraíso imperfeito
Das mãos que obrigavam-se juntas
Da boca gasta de peito
Do peso de ser amado
Do resto do mundo inteiro

Dela era

Dera
A vida que dei pra ela

sexta-feira, 16 de julho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Sim. Estava triste. Possuia uma tristeza no olhar característica aos desapaixonados da vida. Já não havia muito que comemorar embora soubesse perceber maravilhas em peculiaridades. Olhava o Sol, o Céu, as formigas e estas coisas o faziam refletir. Pensava. Estava triste. Seus maravilhosos amigos o diziam: Fica feliz! Imploravam: Fica feliz! Impunham: Fica feliz! Obrigavam: Fica feliz! Mas ele não se submetia àquela ditadura da felicidade. Refletia sobre o tempo; sobre a história; sobre as contradições dos humanos e sobre suas mazelas. Pensava em Deus, no Universo e na vida real, na barriga esfomeada do menino de rua. Fazia relações metafóricas verdadeiramente lindas e tristes que podiam comparar um inseto a um homem. Outras menos belas, mas ainda tristes, que podiam relacionar Deus ao ser humano. Via a beleza na tristeza. Não a mesma beleza. Não era a de se usar um cachecol em dia de frio. Era a beleza de sentir o frio pelo outro que não teria o cachecol. Tinha a sensibilidade de entender que a felicidade não era senão sinônimo de esperança. E que a esperança não era senão sinônimo de atitude. Então abaixou a bandeira branca e feriu-a antes de hasteá-la vermelha. A bem da verdade, vermelho sempre fora sinônimo de Amor!


domingo, 16 de maio de 2010

Outro dia, pensava eu sobre coisa alguma quando repentino, surgiu-me um pensamento de infância. Hoje não o olhei com tamanho ufanismo como nas explanações de outrora. Todavia, tive carnho pela lembrança.
Quando assim pensava, não tinha nenhuma consciência de pensamento político. Ainda acreditava nos mais carismáticos que iluminavam-se à televisão ao relatar-nos nossas próprias vidas como se dela fizessem parte.Houve a vez, abracei um destes que, por acaso de campanha, maquinou o sorriso e apresentou-o mais branco que posso me lembrar, no colégio onde estudava. Eu era menino. Meus braços não poderiam envolvê-lo - sequer chegar às costas, ou pelo curto que eram os braços, ou por imensa que era a sua circunferência. Ou ainda, quem sabem, os dois.
Não citarei o nome do indivíduo. Não porque não lembre. Recordom-e a sonoridade engraçada que fazia os mais espertos caçoarem do circunferente. Eu, de minha parte, achava engraçado apenas. Mas não o citarei porque não o quero que perdure. Há nomes que não devem ser reproduzidos, porque assim, se presta um favor na intenção de um desserviço. Tudo aquilo que se diz em adjetivo ao nome de alguém, quer qualitativo, quer pejorativo eleva o nome, se não no céu, ao grau da existência. Entretanto há nomes que devem ser relegados ao esquecimento, não ao inferno. Peno que se os evangélicos quisessem, por exemplo ganhar sua infinita batalha contra o diabo, seria uma boa estratégia não citar seu nome. Também não seria legítimo criar-lhe apelidos, porque  estes também são nomes. Mas, em vez disso, deveriam sequer nomeá-lo.
Há-de se concordar que o fuleiro ficaria indignado ao perceber que seus grandes rivais o ignoravam. Os evangélicos aqui guardariam-se apenas a bem investir seu tempo louvando o Nome de Seu Senhor. Quem sabem, desta forma, o "..." não fosse aos poucos sentindo fromigar os dedos, e as mãos, e os braços, e todo o corpo, gradativamente. Ao passo que enquanto formigava o segundo grau, o primeiro , lentamente ebuliria ao infinito etéreo da inexistência?
Quanto tempo sobraria para se dedicar exclusivamente às ações benignas aos pobres e desaventurados!
Mas deixemos de falar de Deus, do Diabo, dos evangélicos, e do político. Não foi isso que me propus relatar. O que inclinou-me à escrita não foram estes seres fantásticos sobre os quais se há também muito a dizer, certamente, mas uma singela lembrança de um pensamento de infância. Um pensamento puro...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu, que sempre tive medo do tempo,
Encontro-me diante a ti e fico
Perplexo, obtuso;
Nada mudou, não fosse o capim da tua casa que cresceu,
Enquanto esteve fora.
Ah, que medo eu tive!
Medo de que este tempo pudesse me dar
Motivos pra sofrer quando, te vendo,
Não lhe reconhecesse o mesmo,
Mas é divino que o tempo
Não nos tenha feito prosseguir.
Guardou-nos os mesmos problemas,
As mesmas casas, nos mesmos lugares;
Guardou-nos as mesmas ruas,
Os mesmos itinerários,
As mesmas praias, e as mesmas estrelas.
Não tivesse a sua voz ficado grossa
A contar as novas histórias
Poderia confundir hoje e ontem
E talvez ignorar por completo o tempo que se passou
Sem que meus ouvidos pudessem se acostumar
Aos poucos com as dadas mudanças acústicas
(E este tom grave já distorce da minha memória
O agudo da tua voz de há uns temos atrás).
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A contar tudo o que de novo se passou:
Passei no vestibular,
Sou professor,
Namorei (e você nem pôde conhecê-las a todas),
Fiz novos amigos, fiz grandes amigos
E, contudo teu lugar continuou guardado,
Intato. A espera da tua volta.
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A ouvir tudo o que de novo se passou...
Quanta água escorreu?
Quanto mato surgiu?
E como a cidade mudou...!?
E hoje, cá estamos. Finalmente!
Podemos ir juntos à praia
Ouvir Legião Urbana
Ou brincar de fazer nada.
Podemos [re]cortar o capim do seu quintal.

domingo, 25 de abril de 2010

Choveu e a casa está cheia
E pra formar um mar só falta areia

A dona da casa olha a água escorrendo
Pela casa e nos seus olhos, nos cantos
Neste choro até sente-se podendo
Jurar vir toda a água de seus prantos

Fazendo-se de forte para a amada
O marido por dentro está morrendo
Mas pensa: Como posso não ter nada
E tudo o que possuo estar perdendo?

Choveu e a casa está cheia
E pra formar um mar só falta areia

Existe neste mundo algum culpado
Por toda esta desgraça desta gente?
É chuva, é fome, é sede, em todo lado
E a revolta esvaindo na aguardente

E a aguardia os olhos do casal
Desiludido disse o homem fraco:
Se é pra continuar sofrendo tal
Melhor morrermos juntos no barraco

Choveu e a casa está lama
E pra formar velório falta grana

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P.S.: A poesia foi escrita antes das tragédias que ocorreram no Rio/Niterói, mas não foi nenhuma previdência!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Olho o mar
Me arrepio
Não é frio
É saudade
Me navego
Me entrego
A olhar
Não é frio
Sou navio:
Liberdade!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Diagnóstico da Morte

Um adulto putrefato
Nem poeira pueril
De resto, um rosto de rato
Da velha víbora vil

Quando quieto no seu canto
Pensa poder ser peralta
Sua seu suor de santo
Mas te assusta se te assalta

Não cede nem se tem sede
Fomo ele finge não ter
Vá então tu mesmo e vede
Cuidado! Que quer te ver

Se ela aparece parece
Juro! Que jorra gelado
No peito e apressa-se a prece
Morre de medo o coitado

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Hai de ti Haiti
Que em teu nome já há tanta lamentação
Hai de ti Haiti
Passarinho negro sob a destruição