segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pedra

Já vejo agora esta pedra
Como ela chora sozinha
Não é de Sísifo ou Pedro
é solitária e perdida

Ei-a Pedra solitária
Dura e áspera não-lisa
A pedra que não se acha
Imóvel pedra sofrida

Esconde-se num buraco
Num fosso negro a pedrita
Quem ali a escondeu?
Foi por si mesmo escondida?

Se lhe esconderam quem foi?
O que fez a pequenina?
Que crime atroz cometeu
Pra punir-se ou ser punida?

Naquela inércia de Pedra
Expreme-se endurecida
E só até do silêncio
A pedra nem mesmo grita

Mas se é esquecida a dureza
É porque outrora foi vista
Não. Fora sempre ignorada
É uma pedra inexistida

Nem no meio do caminho
Pode-se estar a sofrida
Acha-se num ex-buraco
Por onde ninguém caminha

Mas então se tão distante
De tudo está a perdida
Como sei eu desta pedra
Será esta pedra minha

Estará presa no oco
Do meu corpo a dura e fria?
Não. Se a tenho não é só
Nenhum sentido faria

Quem sabe se esta pedra
Eu mesmo ela não seria?
Tão solitária e estéril
E tão desapercebida

Sim. Quem sabe esta pedra
Por me ser tão parecida
Seja eu mesmo que escrevo
E por isso tão vazia

Mas nunca morre esta pedra
Pois só morre quem tem vida
É imortal, só e eterna
É uma pedra sem Jazida

Jonathan de Oliveira Mendonça (Niterói, 27/06/2011)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Da engrenagem

A vida poderia ser mais fácil
Sempre penso isso!
Fico pensando o quanto é necessário sofrer
Para se conseguir alguma coisa
E para no fim vermos
Que na verdade não temos nada.
Viver é isso: buscar.
Mas uma busca tão sem sentido!
Não se sabe o que é buscado, mas se busca!
Ao mesmo tempo um sentimento de frustração
Por não se ter encontrado o que se quer!
E a minha reflexão é esta:
A vida poderia ser mais fácil!
São conflitos sobre conflitos!
E conflitos sobre qual a caracterização destes conflitos...
O tempo parece sempre diminuir
E à medida que se vai envelhecendo
Surgindo a necessidade por mais tempo
É que ele some mais facilmente
E com o tempo diminuindo...
Mais atividades... trabalho, estudo, militância, namoro, família, amigos
Cada um exigindo de você
Um tempo que você não tem...
um tempo que você não pode dar
quem sabe a um deles...
E você se pergunta:
Ei! Onde eu entro nesta história?
Por outro lado
As coisas acontecem
E a gente vai sempre se acostumando a elas
Sempre se moldando para estar nelas
Se modelando. Sempre se encaixando
E perdendo forma para outra forma
As coisas lhe são impostas!
E na maioria das vezes você nem grita!
Nem xinga, nem bate!
Na maioria da vezes você admite
E a deformação do seu eu
Vai se dando externa e internamente
Para um eu-quadrado
Ou um eu-oval
Ou um eu-triângulo
Sempre um eu-não-eu!
Sempre se tornando aquilo
Que você nunca foi!
Nunca pretendeu ser
Sempre se distanciando
Dos seus sonhos
Dos seus pensamentos mais íntimos
Sempre se esquecendo deles
Sempre ignorando o que de fato importa
E aprendendo a se importar com o nada
Com o que consegue ser inútil
Sempre perseguindo uma futilidade a mais
Expostas nas prateleiras
Rosas, verdes, amarelas,
A que combina com a estação
Com a hora, com o instante
A que vai me dar o menor valor calórico
O que tem ar condicionado
O que todo mundo quer
O que é diferente de todo mundo
O que passa na TV
O que não passa na TV
E tudo é colocado em prateleiras
Em prateleiras gigantes
Imensas, montanhas de prateleiras
Bicho, camisa, almofada,
Bebida, comida, escola
Saúde, Doença, irmão
Pai, estuprador, delegado
Apresentador, Cigarro, cadeira
Mãe, algodão, chave de casa
Tudo numa mesma prateleira
Tudo como objeto do tempo
Tudo com um molde certo
Exato. Como se fosse assim exatamente.
De forma que o tempo que lhe molda
A idade que lhe molda
Os amigos que lhe moldam
A família que lhe molda
O trabalho que lhe molda
A escola que lhe molda
A cidade que lhe molda
A linguagem que lhe molda
Vão se tornando todos obsoletos
E você se desfaz pouco a pouco
De um e de outro sem fazer questão
Troca, substitiu, compra!
Consegue outro namorado
Um sem o qual você não vive
Um para a vida toda toda toda
E ao mesmo tempo em que ganha presentes
Outro cachorrinho mais fofo
Bem mais fofo que o que morreu
Que está nas fotos da família
Junto com a tia que você odeia.
Você troca de música
E com ela de gosto
E com ele de amigos
E com eles de lugares
E com eles você atualiza as fotos
As sempre fotos sorrindo
Mostrando o quanto é feliz
E que a vida não poderia ser melhor
E que estes amigos são pra sempre
E que você adora esta música
Como nenhuma outra
E que tudo agora é lindo
Mas é tudo uma grande engrenagem
E você é parte
Ou parafuso ou dente
E roda roda roda
Assim como o tudo roda
A terra, o sol, a galáxia
E você pequenino roda
Chegando sempre no mesmo lugar
Fazendo sempre as mesmas coisas
Comendo a mesma comida
Trocando as mesmas roupas
Agindo maquinalmente com as pessoas
“Olá!” “Bom dia” “Boa noite”
“Como vai” “Tudo bem” “Eu também”
Tudo sem exclamação
Tudo sem interrogação
E você roda como uma bola
Do esporte do final de semana
Ou do início do dia
Roda como a sua cabeça roda
No fim da noite de Vinho
Ou de cerveja
Ou de qualquer destilado
Que tenha vindo
Original ou falsamente
De lugares frios ou quentes
Bem diferentes do seu
Você gira como o pneu
De um carro, ou de ônibus
Ou de caminhão ou de moto
Que te leva pro trabalho
E vê o mundo girar a 130 por hora
E você gira como a programação
Que passou ontem e hoje
E que você verá amanhã
Mesmo sabendo do óbvio
Você gira como o seu suor
E como a água
Que não cansa de evaporar
E chover e ser bebida
E ser suada para evaporar
E então você cansa
Fica tonto
Tonto de girar tonto do tempo
Tonto de se encaixar de suar
De sangrar Tonto da vida
Tonto De ficar
Tonto Então você apaga a luz
E deita sem conseguir dormir
Mas na solidão do quarto
Se você pensa, se você reflete
Você preferiria não pensar
Acha-se pequeno diante do mundo
Diante do mar, do céu
Do que há para além
Percebe-se um ignorante
Duvida se Deus existe
Duvida se ele não existe
Questiona padrões
Gestos, atitudes
É então, na reflexão do quarto
Que você, longe de deuses e ídolos
Longe de padres e putas
E de pastores e ovelhas
Longe de reis e mendigos
De opressores e oprimidos
Você se sente novamente humano
O molde fica pequeno demais
E você consegue ser maior
Bem maior que qualquer Deus

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Por que fugiu de mim o velho mar?
Por que das oscilantes afastado
Encontro-me por mar já derramado
Em vagas de deserto a divagar

Vagando a areia ao vento aleatória
E deformando as ondas nas areias
Deserto eu, sem sangue já nas veias
Num barco inconduzível, minha história.

Por que perdeu-se o mar de mim? E agora
Por que me encontro seco? Por que então?
Por que tanta pergunta? Coisa vã!

Converterá-se em mar deserto afora?
Tempos de água e riso voltarão?
Que água é mãe, amante, amiga irmã!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fechar meus olhos para tal imagem
E os meus ouvidos pra sonoridade
Porque é inverno e o amor não cantará
Abrir os olhos obriga coragem
Interrompê-los desperta a saudade
E a impressão de que há o que se não há
JOM - 14/06/2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O Narcisinho Feio

Num largo lago logo viu-se um vil
Um ganso feio e fanho, dava pena
Sonhou-se  sonso o ganso numa cena
Que a si fazia um ganso sacro e riu

O lago refletia a relva e o rosto
Do tempo temperando a sua tez
Creu-se crescendo a pluma a pena os pés
Adulterou-se em adulto a contragosto

E pondo-lhe o olhar n'olhos ilhados
Contemplativo o choro refletido
Ondava os olhos seus olhos parados

Caindo a cara com o olhar caido
Submergiu no soneto sonhado
E um cisne se sagrou jaz ganso sido