domingo, 16 de maio de 2010

Outro dia, pensava eu sobre coisa alguma quando repentino, surgiu-me um pensamento de infância. Hoje não o olhei com tamanho ufanismo como nas explanações de outrora. Todavia, tive carnho pela lembrança.
Quando assim pensava, não tinha nenhuma consciência de pensamento político. Ainda acreditava nos mais carismáticos que iluminavam-se à televisão ao relatar-nos nossas próprias vidas como se dela fizessem parte.Houve a vez, abracei um destes que, por acaso de campanha, maquinou o sorriso e apresentou-o mais branco que posso me lembrar, no colégio onde estudava. Eu era menino. Meus braços não poderiam envolvê-lo - sequer chegar às costas, ou pelo curto que eram os braços, ou por imensa que era a sua circunferência. Ou ainda, quem sabem, os dois.
Não citarei o nome do indivíduo. Não porque não lembre. Recordom-e a sonoridade engraçada que fazia os mais espertos caçoarem do circunferente. Eu, de minha parte, achava engraçado apenas. Mas não o citarei porque não o quero que perdure. Há nomes que não devem ser reproduzidos, porque assim, se presta um favor na intenção de um desserviço. Tudo aquilo que se diz em adjetivo ao nome de alguém, quer qualitativo, quer pejorativo eleva o nome, se não no céu, ao grau da existência. Entretanto há nomes que devem ser relegados ao esquecimento, não ao inferno. Peno que se os evangélicos quisessem, por exemplo ganhar sua infinita batalha contra o diabo, seria uma boa estratégia não citar seu nome. Também não seria legítimo criar-lhe apelidos, porque  estes também são nomes. Mas, em vez disso, deveriam sequer nomeá-lo.
Há-de se concordar que o fuleiro ficaria indignado ao perceber que seus grandes rivais o ignoravam. Os evangélicos aqui guardariam-se apenas a bem investir seu tempo louvando o Nome de Seu Senhor. Quem sabem, desta forma, o "..." não fosse aos poucos sentindo fromigar os dedos, e as mãos, e os braços, e todo o corpo, gradativamente. Ao passo que enquanto formigava o segundo grau, o primeiro , lentamente ebuliria ao infinito etéreo da inexistência?
Quanto tempo sobraria para se dedicar exclusivamente às ações benignas aos pobres e desaventurados!
Mas deixemos de falar de Deus, do Diabo, dos evangélicos, e do político. Não foi isso que me propus relatar. O que inclinou-me à escrita não foram estes seres fantásticos sobre os quais se há também muito a dizer, certamente, mas uma singela lembrança de um pensamento de infância. Um pensamento puro...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Eu, que sempre tive medo do tempo,
Encontro-me diante a ti e fico
Perplexo, obtuso;
Nada mudou, não fosse o capim da tua casa que cresceu,
Enquanto esteve fora.
Ah, que medo eu tive!
Medo de que este tempo pudesse me dar
Motivos pra sofrer quando, te vendo,
Não lhe reconhecesse o mesmo,
Mas é divino que o tempo
Não nos tenha feito prosseguir.
Guardou-nos os mesmos problemas,
As mesmas casas, nos mesmos lugares;
Guardou-nos as mesmas ruas,
Os mesmos itinerários,
As mesmas praias, e as mesmas estrelas.
Não tivesse a sua voz ficado grossa
A contar as novas histórias
Poderia confundir hoje e ontem
E talvez ignorar por completo o tempo que se passou
Sem que meus ouvidos pudessem se acostumar
Aos poucos com as dadas mudanças acústicas
(E este tom grave já distorce da minha memória
O agudo da tua voz de há uns temos atrás).
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A contar tudo o que de novo se passou:
Passei no vestibular,
Sou professor,
Namorei (e você nem pôde conhecê-las a todas),
Fiz novos amigos, fiz grandes amigos
E, contudo teu lugar continuou guardado,
Intato. A espera da tua volta.
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A ouvir tudo o que de novo se passou...
Quanta água escorreu?
Quanto mato surgiu?
E como a cidade mudou...!?
E hoje, cá estamos. Finalmente!
Podemos ir juntos à praia
Ouvir Legião Urbana
Ou brincar de fazer nada.
Podemos [re]cortar o capim do seu quintal.