domingo, 12 de dezembro de 2010

Um devaneio hipnagógico

Tento escrever poesia
Mas a dureza do dia
Embrutece o sentimento
O coração que é surrado
Bate forte e magoado
No peito que morre lento

O corpo todo reclama
Do pé que carrega a lama
À mão que carrega o calo
E o ombro que leva o mundo
Fala em cochicho, resmungo
Do peso de carregá-lo

Penso na filosofia
Mas a dureza do dia
Emburrece o pensamento
Os olhos querem descanso
E o cérebro fica manso
E a cabeça dói por dentro

Lembro “Não ter ou não ter”
Porque pensar é poder
E não se pode pensar
O Tempo é só pro sustento
Quem pensa perde o momento
Que tem pra se sustentar

Hipnagógico penso
No instante utópico  imenso
Entre o real e o sonhar:
“Um dia vou entender:
Porque é que preciso ter
Para poder precisar?”

Jonathan Mendonça, 12/12/2010

7 comentários:

Prof. Pedro Marinho disse...

pegou a essência da ação dominadora do sistema social a partir do sistema produtivo (homem+ferramenta=sustento). A alienação do trabalhador se da em múltiplas formas, não só através da grande mídia como já alertava o Paralamas em Alagados. "a esperança não vem pelas antenas de tv". Se entendi corretamente, foi como o alvorecer. Do contrário foi mais como boiar na maionese mesmo. jpapapojapojapo abração

Fernanda Munhão disse...

difícil, tive de procurar no dicionário p compreender a amplitude do sentido. Tá ficando craque Jonjon, amei os últimos versos.

Yuri Costa disse...

Bom. Como todos os outros.
Sentimentos distintos, muitas das vezes dicotômicos de mão dadas. Muito bom. Cada vez a qualidade aumenta.
Escreva sempre nesse período, fez bem. abraço, irmão!

Anna Carolina disse...

Eu e minha tarefa ingrata de criticar suas poesias.Nem poetiza sou, mas não gostei da última parte e foi refeita como "Hipnagógico penso/No instante utópico imenso/Entre o real e o sonhar"! Bendita critica! Te amo!

aninha disse...

Com o peso do mundo inteiro sobre suas têmporas, ainda se levanta o poeta e grita com toda a beleza a tristeza da humanidade...

helena disse...

Resumo da ópera: o capitalismo obriga a gente a viver sob o jugo do trabalho alienado, e o trabalho alienado acaba nos distanciando de nós mesmos a um ponto tal que pensar, sentir, o caralho, é um sacrifício bizarro. Tenso, né? Ainda bem que Marx e Feuerbach perceberam e descreveram o processo, e que nós temos como combater esse negócio criando um partido revolucionário socialista^^

Bernardo disse...

maravilhoso!