Eu, que sempre tive medo do tempo,
Encontro-me diante a ti e fico
Perplexo, obtuso;
Nada mudou, não fosse o capim da tua casa que cresceu,
Enquanto esteve fora.
Ah, que medo eu tive!
Medo de que este tempo pudesse me dar
Motivos pra sofrer quando, te vendo,
Não lhe reconhecesse o mesmo,
Mas é divino que o tempo
Não nos tenha feito prosseguir.
Guardou-nos os mesmos problemas,
As mesmas casas, nos mesmos lugares;
Guardou-nos as mesmas ruas,
Os mesmos itinerários,
As mesmas praias, e as mesmas estrelas.
Não tivesse a sua voz ficado grossa
A contar as novas histórias
Poderia confundir hoje e ontem
E talvez ignorar por completo o tempo que se passou
Sem que meus ouvidos pudessem se acostumar
Aos poucos com as dadas mudanças acústicas
(E este tom grave já distorce da minha memória
O agudo da tua voz de há uns temos atrás).
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A contar tudo o que de novo se passou:
Passei no vestibular,
Sou professor,
Namorei (e você nem pôde conhecê-las a todas),
Fiz novos amigos, fiz grandes amigos
E, contudo teu lugar continuou guardado,
Intato. A espera da tua volta.
Não poderia contar quantos dias
Pensei em lhe encontrar mais uma vez
A ouvir tudo o que de novo se passou...
Quanta água escorreu?
Quanto mato surgiu?
E como a cidade mudou...!?
E hoje, cá estamos. Finalmente!
Podemos ir juntos à praia
Ouvir Legião Urbana
Ou brincar de fazer nada.
Podemos [re]cortar o capim do seu quintal.
3 comentários:
bem o TEMPO nao parou...e tudo mudou...ate nós...os pensamentos e a vivencia....linda a poesia...
Amigos de infância!!!!!!!!
Sinto saudades!
Profundo!!! Chorei e tudo?!
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